Um romance de época, o livro O Mistério do Verde Nasce, da autora Ana Cláudia Trigueiro, sucesso de público e crítica, é um romance ambientado no vale do Cearamirim na segunda metade do século XIX. Um dos elementos presentes na obra é o mistério de uma inglesa, chamada Emma Campbell, que foi sepultada em Cearamirim, ainda no tempo do Brasil império. A história se passa no famoso engenho Verde Nasce, localizado na chamada Rota dos Engenhos e fundado em 1845. Um dos mais antigos da região. É um dos poucos que resiste a força do tempo e continua de pé. Assim, é possível visitar e conhecer de perto os cenários tão bem descritos na obra. Como dito nas orelhas do livro, a história “tem cheiro de amor, cor de poesia e gosto de saudade”.

Um dos melhores livros que li recentemente. A protagonista da obra é uma menina de dez anos chamada Maria – uma menina de engenho. Uma menina inteligente, perspicaz, buliçosa, resistente, brincalhona, confiante, iluminada e muito curiosa. Por meio dos olhos de Maria podemos sentir, ver, contemplar e conhecer melhor como era a rotina diária de uma criança no tempo dos senhores de engenho. Um ponto marcante é saber que a protagonista, na verdade, é a avó materna da autora. Uma forma singela de homenagear e honrar suas memórias e vivencias em um tempo marcado por dificuldades em meio aos canaviais. Uma vida simples, algumas vezes sofrida, mas aqui é tudo mostrado de uma forma poética, com uma doçura emocionante e que foge do lugar comum. Na obra são tratados, em contexto, temas como Revolução Industrial, a escravidão no Brasil, a diversidade religiosa e a condição feminina nos séculos XIX e XX.

Sempre que passava pela Rota dos Engenhos, em Cearamirim, ficava intrigado ao me deparar com a placa sinalizando “Túmulo de Emma”. Passado mais de 140 anos, pouco se sabe a respeito de quem teria sido aquela mulher. Ana Cláudia, em seu livro, por meio de uma pesquisa histórica bem feita e documentada nos ajuda a compreender a história e o contexto em que teria vivido a jovem inglesa. Assim, Maria e Emma têm suas histórias unidas pela memória e pela saudade.

No alto de uma colina na propriedade do Verde Nasce existe um mausoléu de uma mulher inglesa que se casou com o filho do primeiro proprietário do engenho. O senhor Marcelo Barroca, havia viajado para Inglaterra para estudar e, por lá, conheceu, se apaixonou e se casou com a inglesa Emma Campbell. Após o casamento, voltaram para o Brasil. Tiveram uma linda, intensa e curta história de amor. Infelizmente, com apenas 27 anos de idade, Emma vem a falecer, em 1881, por complicações no parto. Deixa uma filha. O esposo, muito triste, foi proibido de enterrar sua esposa no cemitério da cidade por questões religiosas, Emma, era Anglicana e por costumes da época apenas católicos poderiam ser enterrados nas necrópoles. Assim, Marcelo resolve enterrá-la na parte mais alta da propriedade. Local onde costumavam passar os fins de tarde contemplando o pôr do sol.

Com autorização dos atuais proprietários fizemos um registro da atual situação do mausoléu. Um local de valor histórico para Cearamirim. Uma curiosidade é que as proteções das grades de ferro, do túmulo e da propriedade, vieram de Liverpool na Inglaterra. Fabricadas no contexto da revolução industrial e podem ser vistas no local até hoje. A própria locomotiva a vapor (Catita) citada no romance. Símbolo maior da Revolução Industrial pode ser visita no Museu do Trem (Museu Ferroviário Manoel Tomé de Souza). localizado no IFRN das Rocas – Rotunda. Uma das principais atrações que compõe o acervo do museu é sem dúvida a primeira locomotiva a vapor a inaugurar a ponte de ferro de Igapó, a Catita em 1916.

Ao final da leitura o leitor pode “extrair a garapa da história”. Consiste em uma série de perguntas sobre os conteúdos trabalhados ao longo dos 22 capítulos que compõem a obra. No capítulo chamado Indo Embora, destaca-se uma passagem emocionante sobre a partida de Maria, quando ela precisa deixar o Engenho, é dito que Maria “Daquela vez não se importou com o aperto nos dedos. Talvez porque o aperto no coração fosse maior”.

Apesar de estar associado à tristeza, o túmulo de Emma virou símbolo de uma linda história de amor. Importante lembrar que os locais citados no livro estão abertos a visitação. Uma dica cultural é o famoso passeio “Trem com engenho” organizado pelo guia turístico Francisco. Conhecido por se vestir a caráter como Barão de Cearamirim. O passeio já teve mais de 70 edições e é sucesso. Conheça Cearamirim. Contato @baraodecearamirim

Sobre o autor

By Leandro Soares

Professor da Rede Estadual de Educação. Graduado em História e Filosofia pela UFRN. Mestrado em Filosofia Política, Pós-Graduado em Ensino de Filosofia e Literatura pelo IFRN.